Solidão
Passei boa parte da minha juventude "gestando". Tive três
filhos em um intervalo de 1 ano e 8 meses entre eles. As três gestações foram
de alto risco, não para os bebes e sim para mim. Na primeira tive problemas de hipertensão,
eclampsia e hemorragia pós-parto. Após o susto, fui aconselhada a não ter mais
filhos. Mas, sou teimosa, abusada e sempre acreditei em Deus. Então parti para
a segunda gestação.........terrível!!! A placenta se alojou na parte baixa do
útero (conhecido como placenta prévia), tinha ameaças de aborto, muito repouso
até que meu médico resolveu “amarrar” o colo do útero para poder prosseguir com
a gestação.
Meu segundo filho teve sérios problemas respiratórios ao nascer,
precisou de UTI neonatal, sempre foi muito frágil, vivia doente e quase morreu
quando tinha 18 meses, por conta de uma infecção bacteriana. Foram dias e
noites sem dormir, cuidando para que o pior não acontecesse. Nesse período, eu
já estava grávida novamente. Minha preocupação com o meu bebe doente foi tanta
que me esqueci de cuidar de mim. Quando descobri, eu já estava grávida de cinco meses, mesmo amamentando meu filho, pois era o único alimento possível
para ele, eu engravidei (é lenda essa idéia de que mulher que amamenta não
engravida).
Pessoas, foi mais um dramalhão, a gestação foi muito arriscada.
Após o 5º mês, eu tinha contrações constantes. Passava uma semana em casa e
duas de repouso no hospital pois, segundo meu medico, “meu útero parecia uma
renda de tão frágil”. Eu corria o risco de morrer junto com meu bebe, mesmo
dormindo. Não podia fazer nenhum tipo de esforço. Imaginem uma situação assim,
com outro bebe doente pedindo meu colo o tempo todo!!!! Quando completei o 8º
mês, ela nasceu em uma linda noite de lua cheia.
Embora tenha feito cesariana nas três gestações, eu entrava
em trabalho de parto e, posso garantir para vocês que a última foi a que me fez
saber o que realmente é dor de parto!!!
A bichinha judiou de mim antes de nascer .......rsrs
Diante das dificuldades em conciliar trabalho x filhos x
marido x empregada, quando a caçula fez dois anos eu optei por abrir mão da
minha vida para viver em função da vida deles. Não me arrependo.
Acompanhei cada passo, cada descoberta de uma palavra, cada
lágrima na porta da escolinha, cada sorriso ao abrir uma caixa de presentes,
apartei cada briga entre os três......uffa, não foi fácil!! Pena que passou
tão rápido........
Sinto falta daquele coral: “manhêeeeeeee, quero Muky na
mamadeiraaa”. Sinto falta das comparações engraçadas que eles faziam: “ minha vó
preta (era minha mãe) e minha vó vermelha (era minha sogra, pois ela era
ruiva). Sinto saudades daquele monte de chupetas amarradas em uma fralda (uma
ficava na boca, a outra coçava o nariz e a terceira era para ficar apertando).
Lembro da pia da cozinha, a noite, cheia de mamadeiras. Eram três para cada
um. Minha mãe quando chegava lá em casa dizia: “cruzes, quem come a noite é
cavalo !!”..........kkkkkkkkkkkkkkk
Naquela época, não havia essa facilidade de hoje em se
comprar fraldas descartáveis. Só existia uma marca e era artigo de luxo, só
para ocasiões especiais tipo, quando tinha que sair de casa com os três. Lavei
muita fralda de algodão da Nova América, lembram??
Pois é meus amigos, onde estão minhas crianças?
Sei que não fui a mãe que eles queriam, fui a mãe que eles
precisavam mas, infelizmente, eles não entenderam isso. Apelidaram-me de “sargentão”...........rsrs
Se hoje eles estão afastados de mim, eu não os culpo. Eu não
aprendi a ser mãe, e para não cometer os mesmos erros que minha mãe, eu cometi
outros. Quando a maturidade chegar para cada um deles, creio que entenderão
isso, mesmo que seja tarde demais.
Se não tenho filhos biológicos próximos a mim, tenho filhos
adotados de patas e pelos que, todo tempo, fazem questão de demonstrar o amor
que sentem por mim.
Quero dizer aos meus filhos biológicos que tenho muito orgulho deles, que o método “sargentão” para alguma coisa serviu. Que eu os amo muito com esse meu jeito torto de amar. Como falei antes, não aprendi o que é ser mãe e nem como demonstrar amor por um filho, por tudo isso peço perdão a vocês................tentei.
Sandra do Valle
Oi, Sandra,
ResponderExcluirPARABÉNS pela sua história de vida e de luta! Pelo visto, foi muito difícil sua trajetória de mãe!
Eu moro em Brasília e também tenho o HTLV e sou mãe!
Só uma curiosidade: vc disse que amamentou seu filho! Ele não se infectou??
Um grande abraço! Acompanho seu blog sempre!
Sim, é verdade!!
ResponderExcluirAmamentei os três filhos durante muitos meses. Meu médico acredita que por ser jovem quando engravidei, minha carga pro viral era muito baixa e o fator sorte era bem alto...........rsrs Eu acredito que foi DEUS quem cuidou para que eu não infectasse as crianças.
Bjks